Crônica de uma noite insone
Noites insones são, para não me estender em adjetivos, um tormento. Quem já passou por isso sabe bem do que se trata.
Porque a insônia é, em sua essência, solitária. E só se é insone quando se quer dormir, têm-se todos os motivos para dormir, amplas condições de dormir, e ainda assim, diabos!, a porcaria do sono não vem.
O pacote básico da insônia é acompanhado de palpitações, zumbidos estranhos que não saem do ouvido, idas e vindas da cama e, assim como nas corridas, falsas largadas para o descanso, subitamente interrompidas por qualquer barulho na rua. Há também o pacote de luxo, muito mais suntuoso, geralmente ganho quando se tem uma preocupação pendente, de preferência sentimental. Esse dá direito a breves alucinações, idéias de planos que no dia seguinte se revelarão uma bosta, tendências a gritos, socos nas paredes e, em casos extremados, vontade de chamar a mãe.
Nem tudo está perdido, porém – até desse estorvo podem se tirar coisas boas. A insônia é o momento ideal para realizar tarefas necessárias, mas eternamente adiadas. Dar um geral nas contas, juntar documentos, jogar fora papéis inúteis, separar roupas velhas, dispor os discos em ordem alfabética. Ou, se você estiver desocupado, mas muito desocupado mesmo, escrever uma crônica.
Prevalece, no entanto, a sensação desgraçadamente angustiante (embora com um quê poético) de estar acordado enquanto o mundo dorme. E se quer fazer algo, e se sentem os meios para fazê-lo – mas não é possível, pois naquele instante só você existe de fato. Resta o consolo de, ao nascer do sol e ainda desperto, imaginar se ela também estará acordada, pronta para um novo dia
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